Boa noite, falta de mim.
Boa noite para ti e para tudo o que te rodeia...,
Hoje, - e pela primeira vez - escrevo-te para te pedir que voltes. Para te pedir, civilizadamente que venhas para dentro do meu corpo e que o faças ganhar vida de novo. Peço-te, com toda a gentileza, que tragas o meu sorriso de menina e o olhar ingénuo para o rosto. Não sei mais estar sem mim e digo-te que hoje foi tudo por água abaixo. Se há coisa que preciso mais é de mim. É do meu brilho e da pessoa que era.
Neste momento, sou apenas portadora de um corpo sem vida. Com sorrisos forçados. Olhares profundamente vazios. Não medito sobre mim e sobre a pessoa que transporta a minha alma. Não penso. Não ouço. Não sinto o cheiro de nada que corre à minha volta. Não sinto a felicidade a passar-me pelo corpo e não sinto o sol, que outrora me esbarrava na tez e me deixava a sorrir. Um sorriso? Não o consigo soltar à muito e olhar alguém e questionar-me sobre ela e sobre as coisas mais intrigantes, é coisa que não cabe na minha mente. A minha mente fechou-se, tal como eu me fechei. Toda a informação que esta continha, desapareceu. Não sei de onde sou, de onde vim, porque sou eu e porque cá estou ou até mesmo o que faço neste mundo.
Porque não nasci eu em Marte? Esqueci-me de todas as coisas…Esqueci-me de me lembrar que um dia fui uma pessoa alegre, com uma enorme lista de sonhos, com sorrisos para dar e vender, com um olhar sedutor e preenchido. Esqueci-me de nunca me esquecer disso! Esqueci-me que amar alguém me traria coisas boas e esqueci-me também que a amizade tem de existir para nos fazer crescer… ó,… e crescer, esqueci-me do que isso é. Parei no tempo, deixei-me levar por uma imensidão de nada e agora estou aqui, neste espaço sem cor e sem alma…
Em tempos, ficaria preenchida com amor e pessoas que se encontravam à minha volta, hoje, só o papel e o lápis são os meus melhores amigos. Não conheço mais ninguém se nem a mim me sei conhecer… conheço o meu corpo, porque esse, ainda está inteiro e é ele que me faz levantar todos os dias deste cadeirão e ir à janela observar nada.
E boa noite, falta de mim. Boa noite, porque de tanta falta que te sinto, já quase te imploro que me chegues perto agora. Que me digas que voltaste para ficar e nunca mais vais largar-me. Boa noite, corpo cansado e sorrisos inexistentes. Boa noite pensamentos vazios e, por fim, boa noite, mundo que desconheço.
Falta de mim, é o que sinto. Ausência de mim, é o que não pára de me escorrer o corpo.
... Após a última palavra, o sono satisfez-me e aconchegou-me. Foi um desabafo. E ficaria por aqui, por estas palavras cheias de nada uma noite inteira.
E acordei. Voltei ao mundo real... talvez mesmo sem nada, mas com tudo à minha volta, pelo menos.
Nos melhores e piores momentos,
Amante da vida, sempre.