terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Cartas de Bolso I

Oceano das Paixões, 05 de Junho de 2006

Hoje sinto-me na obrigação de vos escrever... Porque hoje, aqui parada, não consigo estagnar o pensamento e deixar-me fluir. Precisamos de nos entender os três.

Não podias ter fugido de mim. Não podias ter-me deixado desta forma tão preocupada. Despediste-te com um até já cheio de lágrimas, mas não me disseste adeus. E passadas 2h tu não me dizes nada. Parecem anos sem ti. E a tua falta eu sinto. E o teu calor já não me preenche, nem pertence. Mas és parte de mim. E eu acredito que irás sempre ser. Podem existir dois corações para uma pessoa, mas são individuais. São únicos. Porque são exactamente diferentes. Importantes e indispensáveis à sua maneira. Cada um genuíno do seu ser portador; cada um mais bonito que o outro e o outro mais bonito que cada um. São lindos. Mas só um me pode pertencer e eu estou à tua espera. Estou a querer beijar-te e deliciar o teu corpo, porque sou um príncipe perdido no meio de uma confusão. Mas tu, tu és uma doce e bela princesa que tem o meu coração nas mãos quando eu sei que pode parecer tudo escuro.
Por outro lado, há outra princesa que me faz sentir bem e eu, sou o mesmo. Vocês intercalam-se e deixam-me doido. Louco! Com vontade de gritar para toda a gente o meu descontentamento, porque na verdade vocês não conseguem deixar-me de outra maneira.
É de noite. Estou ausente do meu sono por vocês duas. Estou a pertencer ao mundo da noite como um morcego, mas não poderei dormir pela manhã que irá decorrer. E nem assim, nem pensando que umas horas de sono não terei, eu páro de pensar nas duas.
Duas belas princesas que me deixam perdido noutro mundo, dois mundos diferentes, dois rumos e um para escolher.
Poderia saltar-me à vista, sendo uma morena e outra loira, mas são as duas mágicas. São as duas do reino mais longuínquo, cada uma de seu lado.

Talvez te escolho a ti. Por seres tão pura e tão parecida comigo... Mas existem coisas que se metem no nosso meio. Infelizmente existem. Tenho um passado recheado de coisas boas e momentos bem passados, porém, existem bastantes desgostos; inúmeras mágoas. Diversas discussões que me preenchem de forma negativa. Mas não sei esquecer nada. Não sou capaz de o fazer porque existem diversas coisas que se sobrepõe sobre as más e mesmo por muito crueis que sejam, as boas são demasiado perfeitas. Demasiado brilhantes e sorridentes para se conseguir esquecer dessa forma.

Mas voltando a ti. Eu gosto da tua amizade acima de tudo. E eu gosto da tua companhia como minha companheira fiel . Mas estarei eu de cabeça livre para te amar de corpo e alma? Ou melhor, terei eu a alma preenchida por ti para ser capaz de me entregar na totalidade?
Aposto que nem sabes e provavelmente nem nunca imaginarás... Mas a minha alma é vazia. Contudo, é muito grande... Sendo mesmo ela cheia de nada, eu amo-te. Todavia também me amo a mim. Para além de todo o respeito que sinto por ti, pela excelente pessoa que és e que demonstras todos os dias ser mais, também me respeito a mim. À pessoa que me tornei. E por vezes, sinto-me mal com essa pessoa fria que sou. Na verdade sou só um príncipe vazio, mas cheio de amor para dar... Pena que não o consiga dar a quem queira. E agora, não te estou a dizer que prefiro a outra princesa, estou apenas a dizer que preciso de o dar a alguém que queira.
Gostava de chegar ao pé de ti, sentir os teus braços e adormecer sobre eles, porque tenho a certeza que não o farei esta noite e só envolvido nos teus braços estarei seguro.

Mas depois existes tu, a loira reluzente que me deixa fascinado. Que me faz imaginar um futuro promissor e sorridente. Que me faz querer tudo e mais alguma coisa. Mas não há nada que eu possa fazer.

Não estou dividido, ou pelo menos, não sigo o que a minha cabeça diz porque só o meu coração comanda. E o meu coração quer-me sozinho, ou a ser amado por alguém que realmente me ama. Não por quem me magoa.

E todos os caminhos me levam ao teu encontro... Apesar disso, não sei que tu és tu. Não sei se a princesa morena ou a loira. Não sei se as duas. Mas sei que talvez - e isso garantidamente; nenhuma! Começo a observar todas as paredes que me rodeiam e não vejo nada. Não vejo ninguém. A minha cabeça parou. Paralisou. E uma nuvem recai sobre a minha cabeça. O meu olhar torna-se sombrio e escuro. E dos meus olhos uma tempestade cai. Uma trovoada abate sobre a minha cabeça e não a deixa pensar. Em nenhuma de vocês. Em ninguém! Nem em mim... E oh, se é de mim que eu mais preciso!? claro que é... É do meu encontro emocional. Sou um príncipe sensível que nem uma pena. Mal se sopra, caio. Mal se abana, perco as forças.

Todas as pessoas, quando passo, dizem-me ser um príncipe rude e cruel. Frio e feio. Mas eu não sou... Eu juro que não sou. É tudo uma capa que me acompanha desde sempre. Histórias do passado fizeram-me ser assim e por tantas primaveras. Já foram 20. E em nenhuma delas eu senti a magia das árvores a mudarem as flores. Porém, posso dizer-vos, a todos vocês que sou sensível... A brisa do mar faz-me chorar, por exemplo. E o rebentar das ondas, quando entro num suspiro profundo, fazem-me sorrir. O Sol, quando me bate na cara, faz-me coçar os olhos como um bebé naquelas horas de estafa. Eu sou um príncipe digno de meu nome. Mesmo que nem as atitudes o façam crer.

Prometi a mim mesmo mudar e tornar-me mais sensível aos olhos do mundo. Mas não direi que sou capaz. Mas a minha alma é demasiado grande e mesmo que vazia, eu sei sonhar.
Porque "Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena!" já o sábio o dizia, Fernando Pessoa.

(Às vezes, faz-nos falta interpretar a nossa vida sendo outra pessoa. E eu tento, simplesmente, compreender-me utilizando diferentes facetas. Não de mim. Mas de pessoas que me rodeiam e com quem convivo diariamente. A nossa introspecção é a melhor coisa que o ser humano consegue fazer, mas quando encontra a capacidade não só de sonhar, mas antes de mais, de se conhecer a si próprio)

Sem comentários: